Passagem pelo cosmos #2

"[...]

Martin ergueu-se então da rede abandonando seu divã, e ao olhar em volta, viu que as aparições de celofane não mais o acompanhavam. Então, com um suspiro de exaustão por segurar suas dúvidas na mente, ele chorou as palavras como se o relento pudesse responde-lo:

- Pergunto então ao vento, se só ele pode me ouvir - anunciou, dessa vez refletido no espelho oceânico - por que a vida humana é efêmera, mas um beijo breve é perene? Por que cubro-me de tanta humildade sentimental, se quando obtenho amor não consigo retribui-lo? Serei eu uma entidade gananciosa, que toma a paixão e morre engasgado com ela? Meus pés estão em alto-mar e não marcam as areias; meus beijos mesmo em êxtase, não são lembrados como verdade. Tal sina não mereço... Pois desejo mergulhar acima de qualquer oráculo, senão me esquecerão, então não existirei no passado se o futuro não se lembrar de mim!
O sopro constante do vento sul pescou sua atenção, e à primeira percepção, parecia realmente uma resposta, mas a longo prazo revelou-se um banho de lucidez. E então Martin zombou de si mesmo, pois ardia em seu intimo a reflexão dos marinheiros e uma nova cicatriz de sabedoria[...]"

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