Mordomo

Ela carregava consigo uma lista de perfeições, enquanto passava na prateleira de pessoas. Após desistir das mais brilhantes opções, enfim descobriu que havia se perdido.
Pouco exigente, só queria comprar um corpo que mantivesse a cabeça erguida com um olhar distante, mas quando olhasse para baixo, reproduzisse um "eu te amo" suave. Claro que não era natural, mas nada é mais cativante do que um amor duvidoso!
"Venha cá, fique de joelhos do meu lado e junte suas mãos às minhas em silêncio", dizia uma das geniais instruções. Ali estava o diplomata perfeito, como uma moldura para a arte, um banner para o ego.
Caso quisesse sair da postura, encontraria apatia descabida, então se prenderia ainda mais. Caso quisesse mostrar afeto, encontraria um abraço morno, devidamente orientado para não significar nada, mas iludir bastante. Não precisava mais do que uma convincente falsidade para obter calma. Na prateleira nada encantava, pois a liberdade não cabia às suas demandas feitoras. Só havia beleza nas perfeições caladas do homem sem alma, que em sua mente ferida, vivia.

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