Quero sono de manhã

Procurando respostas onde muitos já acharam (Wall-E)

Eu, dessa vez Eu lírico,
desapareci ontem na noite.
Espera-se que tal soturno me açoite,
porém fui de todo modo empírico
quando no impulso do escuro
tornei a mim, o primeiro onírico.


Não se desespere, pois tu entenderás!
Desde então desapareci mais vezes...
Quando endiabrado com o futuro,
nos galhos das árvores perdurava
Passava a noite olhando o céu,
para alguns, sonhava.

Infelizmente, do futuro, eles vieram
Ao redor da mesa, no almoço
se reúnem e me olham.
Esperando um relatório sincero,
me questionam:
“Então tu aparecestes, coruja?
Que farás da vida, seu vagabundo,
Quando tua hora chegar?”


“Por enquanto, não sei
Nem vós saberias, meus pais
É uma coisa importante
Decidir a vida num instante...
Posso meditar um pouco mais?”


“Já lhe disse rapaz,
construir muro, parafuso, tu vás.
Nem que tu limpes dentes
ou cures doentes,
tu honrarás nossa labuta.
Por acaso achas que tua mãe é puta?”


“Nem que primeiro relutes,
não fugirás para o escuro da floresta,
tampouco para baixo da mesa.
Responda-me aqui e agora,
Que farás da vida?
Cantará com o galo, ou acordarás com ele?”.


Eu, aquele anterior a todos Eu líricos, vejo tudo:
Dos galhos, o rapaz onírico ora
Tarde adentro, para mim, o escuro, olha
Reza então, pedindo-me fome ao rico,
carne ao pobre
Achando nisso justiça, chora.


Feita as premissas,
agora virá mais um pedido egoísta
Sei de seus sonhos
são tão nublados quanto eu
Deseja ser acolhido,
quando a luz for embora
E só restar breu
Lá debaixo, ora ele grita, ora ele ora:


“Rogo-te a primeira vez,
sendo honesto e sincero!
Não tenho claridade na mente,
tampouco claridade é o que quero


Desejo morar na noite,
ter sono de manhã
Desejo dançar com quem não dorme,
dormir com quem morre,
quando acorda pela manhã.


A noite é minha alegria
a única que notei até então
Achei nela mistério, morada, euforia
Espero achar mais, se houver luz no vão


Mas se de vez quiser dar-me chance,
Querer que a calma me alcance
Não me oferte fartura!
De vez, jogue-me numa aventura
Em que eu não veja o mundo no instante,
Porém procure no escuro, a chama cintilante.


Esse é meu desejo, estrelas claras, escuridão.
Se o coração não estiver morto
até chegar a mim,
rogo-lhe enfim,
pois estou de mãos atadas:
Dá-me sono na manhã,
Para que haja vida na madrugada!”


Eu, o primeiro de todos líricos,
dou a ele realidade.


O rapaz onírico volta mais uma vez à mesa.
Hora do almoço, hora de acordar.  


“Esse piolho zomba de vossa labuta
Esperas que eu seja surda?
Ontem tu sumiste de novo!
Por acaso enxergas no escuro?
Já está decidido.
Tu não me farás mais sofrer
Trabalharás com teu pai
Sempre que amanhecer”.


Desde então,
ele tornou-se a escuridão no mundo.
Quando olhavam para ele,
viam-no lutando para ser de dia,
a loucura da noite.
E assim seguia apagando,
desvanecendo no sol.
Até que um dia,
ele deitou-se numa pedra e ficou claro,
como o pior dos males.

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