Pupilas Instáveis

“Ó, belezura!”
Canta meus lábios patéticos.
A beleza de volta urra:
“Não tarde me encarando, retardado!”

Tento desviar o olhar,
mas seus belos mandalas,
azuis pálidos como o ártico,
empalam lanças opalas
no meu corpo estático

Ali petrificado, jazia eu.
Inerte, fascinado,
Aviso-a que sou seu.


“Cristalinos…”
Balbucio em esboço
enquanto afundo em sua íris
tal como um tolo seduzido,
despencando nu num poço.

A dona dos belos olhos se lamenta:
“Acho que ficou cego, o rapaz
alguém me ajuda a ressuscitá-lo,
se não for pedir demais?”

Revelando-se subitamente
ser duvidosa poetisa,
Sua consciência ecoa:
“Salve-o com a brisa”

Das profundezas de sua retina,
escapo em jornada.
Fugindo das lágrimas de morfina,
vejo-a erguendo-se amada

Na ponta dos pés, alcança
Emparelhando vosso coração
Fazendo biquinho, abonança
Logo abaixo da minha perdição.

Com um sopro quente resfriado
Ela desperta-me no entanto
Sou mergulhador congelado
Fascinado por seu encanto

Respondo rapidamente
da maneira que desejei interpretar.
Como Ícaro em asas de rapina,
alvejo sua boca unicamente,
pela claridade do olhar.

Receoso, espero ela me aceitar
Seus olhos arregalam de susto.
Sem magia para me apagar,
tenta resistir ao impulso.

Entretanto,
contrariando qualquer presságio nefasto,
ela fecha seus olhos cortinados
Mesmo perdida no escuro mais vasto,
seus lábios agem descontrolados
Inútil são meu olhos enquanto os dela,
permanecerem fechados.

“Veja só!”
Uma senhora admirada exclama
puxando para consigo,
seu grisalho xodó.

Ele, interrompido nos bocejos,
nota o brilho no olhar de sua dama
E decide explicar-se entre beijos
“É assim com quem ama,
se bate um ventinho,
ficamos para sempre de cama!”

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