Odisséia

Quando o vento passa
Você só me traz penas
Meros farelos de asas
Que ao serem coladas
Rescindem em centenas
Brilhando como brasas

O lar não me ajuda a sair
Meus pés agarram o chão
Impedindo a cabeça de cair
E cortar o ar como um arpão

Jogo fora a terra avulsa
Para o caminho sem rota
E acolho a simpatia
Das que sujam minha bota
Será que chego a ter ver
Ou a odisseia vai me deter?

O porto define o curso
Pelas docas até a taberna
Onde um capitão pirata
Espera sentado a baderna

Com meu tambor sai de casa
E com ele comprei passagem
De navio para outra galáxia

Rum mágico que ruma
Minha trilha para sorte
Num corte entre água e bruma
Navego a bandeira da morte

Paralelo aos astros
Na fronteira final
Guio-me pelas luzes
Da aurora boreal.

Até o infinito azul
A espada abastece a carga
Ao aportar em terra firme
A despedida é amarga

O solo se esconde na sola
Em direção da rosa
Sem rumo nos ventos
O amor inspira a prosa
Compondo lamentos

No escuro,
A fogueira é acesa
Deixando a noite clara
Sonharei versos românticos,
Para a moça deitada em flores
Coberta de seda dourada
No fascinante abrigo de cores.

Sobre o repouso de folhas
Armado num abraço
Aprofundo minhas escolhas
Escuras no espaço

Acendendo na manhã
Os raios da aurora amante
Inundam a névoa hortelã
É seu o turno flamejante
Contra a sombra tecelã

Pelo vazio de vales
Até o recanto alpino
Eu evito os males
Das nuvens do destino

A luz rasga o céu
E expurga a neblina
Branca como véu
O mistério se ilumina,
A cachoeira é revelada
Banhando como pincel
Uma mulher divina

Olhando-a banhar-se ao vento
Admiro num passivo fascínio
Suas curvas definirem o relento
Na luz prateada de alumínio

Um leque de água cruza o ar
A simples virada adverte
Suas gotas precipitam a luz
E o êxtase deixa-me inerte

O charme da deusa
Cintila à luz prateada
Chamando-me às ondas
Pela fonte esverdeada
Nas profundezas do delírio
Mergulho rumo ao convite
Até a queda da cachoeira
Para os braços de Afrodite.

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