Brilha! Brilha Garrafinha!

Foi aqui que tudo começou. Minha primeira crônica e minha primeira tentativa, embora despretensiosa, na literatura.

Martin estava deitado na areia da praia vislumbrando o céu negro, as estrelas quase desapareciam às luzes da cidade. Pensamentos que seriam considerados fúteis ao mercado soavam bem confortantes à sua paz arenizada. Seus olhos estavam depositados nas estrelas, tentando recuperar seu brilho ofuscado. A iluminação daquele manto sombrio mergulhava-se numa reflexão profunda, imergia nas histórias bobas de sua vida e absorvia uma sabedoria que invejaria qualquer lunático acadêmico. Bem sabia que a partir daquele momento viveria só pela novidade, nada mais lhe interessava tanto do que o susto da descoberta. Não quero viver no Mundo do Spoiler!, decidiu. Desistiu do esforço em deixar um legado. A busca da surpresa tinha respondido muito coisa, era o âmago de sua vida. Deixou de ser o poeta inspirado à procura da inocente folha branca e se tornou o copiador de páginas inéditas, cheias de milagres e pecados, páginas que continham história para contar. Enquanto jazia na areia, ele se tornou egoísta aos metódicos. Enquanto jazia na areia, ele admirava as idéias novas. Enquanto jazia na areia, queria se levantar e se surpreender. Enquanto jazia na areia, seu amigo Bob jazia embriagado ao seu lado… Enquanto jazia na areia, estava igualmente embriagado.
O companheiro etílico se levantou cambaleando e lhe deu um pontapé.
–Vamos para casa! – Bob declarou, enquanto se estapeava para tirar areia do corpo.
–Está em condições de ir? – Perguntou Martin temeroso de ter que carregar aquele vadio moribundo no ombro.
–Sim, me recuperei depois de uma boa reflexão, a mesma putaria de sempre! – Gargalhou com uma voz rouca, quase como uma tosse. Aquilo não lhe surpreendeu.
Se levantou da areia e caminhou até a margem da praia. Olhou para as estrelas, não lhe pareciam mais ofuscadas. Olhou para o mar, brilhante à luz da lua… Transborda de pensamentos impuros,refletiu. Voltou para onde deixara as coisas e encontrou a esguia criatura bebendo novamente.
–Quer um gole? – Bob estendeu o copo por cima da cara bêbada.
–Não quero dormir com mais vodka lubrificando a garganta! Acho que devia fazer o mesmo – Acusou, e já se virando para pegar as coisas na areia.
–Relaxa puto! Estou bebendo água! – Bob tornou a gargalhar tossindo.
Aquilo lhe surpreendeu.
Já é um bom começo. E um sorriso nascia para abençoar aquela madrugada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário