Um dia de cada vez

Empurro dor e suspiro
Distante parece o alívio
Mesmo quando padece o calor
Tim-tim de um amor
Cujo livro foi dado.

Bate vigoroso, alerta eminente
Em breve cansará
O coração carente
E o contento se parece
Com tudo que tinha antes
Ele mesmo, pairando
No cosmos de um quarto.
Assim espera, claro.

Espera agora, nesse estado
Nesse momento, nesse segundo
Nesse presente, olha pro lado
Ainda presente. Bate mais rápido
Quase não dá
Pra falar
Quanto mais dizer: faz falta.
E aprenderá a viver assim:
Rendendo-se todo tempo.
Até que o contento distante
Acolha lentamente...
Dia a dia...
Um após o outro...
Se aproxima devagar...
Do menino carente...
Que, a força, agradecerá.
"Obrigado por chegar"





Sobre faíscas e brasas.

Tem só aquele momento de ruptura. O cuidado se vai, a casca cresce. Nada que sai de você é fácil ou honesto. De repente, não são mais corpos nus na praia. Temos, no fim, peles de edredom e sonhos tropicais. As chamas brilham para um só, lá ele vê a saída. Olhos revirados, embriaguez, conversa fora e papo barato. Tudo sempre excitante e espontâneo, se souber fugir antes da validade.
E da vontade terrível de viver o fogo, a alma corre pela mata pulando de fogueira em fogueira, sentindo a luxúria e a delicia de quase se queimar. Não há desejo de aproveitar a brasa, que só aquece o casal que está conversando e rindo noite a dentro. Enquanto um se faz em fogo, em noites nebulosas com álcool e iguais. O outro, envolvido como escultor, quer pouco a pouco, esculpir um amor. Pois amor é esforço. É intencional, é proativo sempre. De longe a casca que foge jamais vai voltar pra formar escultura. Seu fogo, mesmo de longe, incendeia a floresta, que passaram tantos dias caminhando juntos, de mãos dadas. O escultor que nao foge de sua obra, se queima, é carbonizado se for apegado e depois nao tem volta. Pois quem lida com fogo não se queima, e quem lida com amor ta destinado a se apegar.
Que se lasque a casca, faça o carvão da escultura pegar fogo no churrasco, coloca a música do Rocky. Estampe um sorriso faceiro.
    


 

Sorriso

Tenho me pegado te vendo
Onde o céu encontra a água
No lençol azul, cobrindo a cama
Várias embalagens vermelhas
Espalhadas no lençol
Dedos melados de açúcar
E um sorriso luar crescente
Iluminando meu fim de noite

Da sapequice que nos assola
Até as colinas do teu charminho
Faz bico, enrruga a testa,
Bebê bravo pede exausta:
"Pelo amor, faz massagem?"
E pelo amor eu amasso
Cada pedaço que posso,
Pele cheirosa, gostosa
Mordo as costas, tiro um pouco
Da tua marra dengosa

Tomo um tapa na nuca!
E de carro, ônibus e barco
Vou pra longe.
De lá, olho pro encontro
do céu e do mar
A maresia então sopra
Deixa brega o ar
Nada mais importa:
Preciso por em seus lábios
Um eterno luar
Esticado, ponta a ponta.
Como desenhado em giz
Pelas mãos de uma criança
Dois olhinhos brilhantes
E um semicírculo minguante

E assim paira a miragem
Onde o céu encontra a água
Você de banho tomado
Dormindo pelada
Ta ali tão pertinho
"Posso fazer essa mulher feliz?"
"Será que posso tocar?"
Olho pros lados, ninguém vendo
Nao faz mal tentar...

Estico o braço fora do barco
A mão abre devagar,
Faço cafuné no vento
Tropeço na borda do convés
Caio na água gelada
Espuma explode no relento
Que bobo eu
Tão brega
Tão grudento.

Catei do google :)

Maré de Colchão

Tem alguém que vem a mim
Nos momentos de desespero
Salve-me com sossego
Acalenta-me com admiração
Pois sua vista é pura,
Em seu ar me aconchego
O calor que dá,
me cobre.

Nos colchões da estrada
Pelo verão flutuo
Daí batemos em mais uma porta
Beijamos algum parente
Penso que volto para casa
Mas agora, meu olhar
Mora em você

Durmo assim apavorado,
Nos temores de sempre
E a visão de você, sinuosa no escuro,
Agarrada em almofadas
Com cabelos em leque
Faz-me leve,
solto pelo ventilador
Que sopra pela janela
A exaustão da alma.
Aqui estou novamente,
Falando com o doce,
Aconchego de um abraço,
sonolento.

Espero fazer mais poemas
Enquanto voce dorme,
Com as pernas por cima do meu corpo
Afundo assim todas as noites
no mar de um colchão pequeno.

(catei do tumblr)

Olhar Pericioso


Com a perícia no olhar
Fito de longe a moça,
Aproxima-se de mim encanto
E me deixa assim meloso


Só preciso ter nos braços
Seu belo corpo sinuoso
Enquanto o sorriso guardo
Bem trancado no sonho,
Que tenho logo ao te ver


Ela faz carinho, paquera
Acerta-me seu olhar perigoso
Impossível não aceitar
Quando nosso coração
É feito da mesma matéria


De longe, um abajur nos cobre
A pouca luz desvanecente
Apaga a gente aos poucos
Lenha a vida de nossos corpos
Leva o tempo de repente
Enquanto o ar queima
E deixa toda carne quente.


Inquieto de males e ânsias
Somente existo nas nuvens
Do lençol que compartilhamos
Enrola-se entre nós, descobre a gente
Desnuda, completamente, o colchão


Só me resta passar as noites
Com olhar pericioso
Vendo você no repouso
Abraços do meu lar.


"Crica do céu" me guarde
No peito, mas me aguarda
Também, no cheiro, no sabor


Pois é essa peculiar iguaria
Capaz de mover-me de dia
Para a noite te encontrar,
"Qualquer ar doaria,
Qualquer preço valia,
Perco
todo
fôlego,
corro,
sem res-
[...]

"amo seu beijo."



unknown author

#1 Big City Nights

 Era uma daquelas noites. O frio logo cedo me levou a uma dose de uísque.
 - Jack com três pedras de gelo - pedi no Batidão da esquina. Enquanto eu assistia o metrô sugar cidadãos para dentro da terra, o garçom preparava a bebida e, mais uma vez a maldita consciência do Criolo me alertava, “não existe amor em SP...”.
 Profeta nosso de cada rolê, este se provava cada vez mais certo. Como um oráculo inoportuno, o refrão embarcava no vento frio, passava pela rua, e assobiava no meu cangote.
 "Eu te disse", lembrava.
 Em São Paulo, só restava a nostalgia do amor. Em alguns momentos era a temperatura, outros era o caos da cidade. Eu não sabia lidar com a euforia silenciosa, pois fui criado em uma vila de pescadores e sempre me senti acolhido pelo mar. A água me recebia com uma garrafa cheia e após esvazia-la, levava o casco e me trazia uma mensagem. Algumas vezes eu ia à praia receber as cartas, e de repente estava manso.

Psico-engate (prosa poética)


 Estou morrendo, é verdade.  Não da gripe que me assola, diga-se de passagem.
– Mas quem clama por mim além de vós? – pergunto – ó colchão, ó sofá!
– Deite e espere... – ela sussurra.  Novamente a Enfermidade leu minha mão.
– Estou morrendo... – lamento.

 Meu lamento causa atraso, e, ao notarem, logo me cobram progresso. Eis que respondo para o enviado:
– Nenhum avanço por aqui, capitão! – atualizo de prontidão. O suor escorre da testa junto com minhas inspirações tão necessárias.
– Parece que não haverá nenhum, de qualquer forma. – o Capitão da Humanidade responde.
– Mas... Eu estou esperando!
– Sei disso. Todos nós estamos. – encerrou e foi embora antes de eu começar minha continência.
– Estou morrendo... – lamento.

– Erga a folha, olhe-a sem piedade, rabisque sua ideia como uma faca rabisca a carne – instruiu o Poeta Violento.
 Ergo-a então, como dizia a instrução e começo a rabiscar qualquer coisa sem paixão.
– Assim não dá! A felicidade não vem! Como devo escrever então? Essa exaustão apodrece em minhas veias! – protejo-me em desculpas.
– Tanta decepção... Se não queres mais a arte, rasgue-a então! – braveja o poeta, coberto de emoção.
– Estou morrendo... – lamento de antemão.

Quero sono de manhã

Procurando respostas onde muitos já acharam (Wall-E)

Eu, dessa vez Eu lírico,
desapareci ontem na noite.
Espera-se que tal soturno me açoite,
porém fui de todo modo empírico
quando no impulso do escuro
tornei a mim, o primeiro onírico.


Não se desespere, pois tu entenderás!
Desde então desapareci mais vezes...
Quando endiabrado com o futuro,
nos galhos das árvores perdurava
Passava a noite olhando o céu,
para alguns, sonhava.

Pomar de Sorrisos

  Chovia levemente no gramado da raposa. O terreno era belamente esculpido: as gramíneas eram espessas e fofas, pareciam um tapete; o pomar, bem aparado, coloria os fundos do terreno com faixas de frutas nos pés dos troncos; a casa perto do pomar era linda, com várias redes na varanda e paredes de pedra-mel. A raposa cuidava bem da sua toca. Naquele dia especialmente, o pomar estava abarrotado de mesas de madeira e faixas de pessoas coloridas cobriam as frutas. Era um dia ímpar de celebração.
  Eu havia sido convidado dessa vez, estava a passeio. Entreguei um saco de arroz na entrada e fui até o pomar procurar algo para beber. Enchi uma de taça de vinho e me afastei vagarosamente das távolas e risadas convidativas para saborear a bebida. Da mesa mais próxima de mim, um homem se destacava vestido de terno. Pela forma que ele se vestia e sorria, aquele dia era muito especial, embora um conforto de alguém muito experiente sombreasse seus arredores, afastando qualquer interrogação alheia de sua aparência. As pessoas que falavam com ele pareciam acostumadas a vê-lo daquela forma.

Insisto Vão

Espero nas severas
margens da realidade
Que expectativas sinceras
Transformem-se em felicidade

Esta garantida,

pré ao meus pés
Sempre ao chão
Que não fantasio relés
Sonhos de verão

Ainda esperançosa

Consciência minha,
Ingênua valente
Acha-se que vinha,
a um devaneio contente